Instruções para o Colapso
Coletivo Cartográfico
Vídeos com Cartografias e Gravações de Percurso
Criação do Percurso:
24/02/2013 - Domingo
Realização do percurso por outros através de mapa e gravação:
03/03/2013 - Domingo
Andrea Mendonça + provocação de Carolina Nóbrega
?/03/2013 - Domingo
Depoimento
Depoimentos
Monica Lopes + provocação de Fabiane Carneiro
30/03/2013 - Sabado
Depoimento-Assunto:
Cena final de Zabriskie Point de Antonioni
e Gordon Matta-Clark
Carolina Nóbrega + provocação de Andrea Mendonça
?/03/2013 - Domingo
Depoimento
Fabiane Carneiro + provocação de Monica Lopes
?/04?/2013 - Domingo
Depoimento
comentários:

Provocação Fabiane Carneiros
Hans Bellmer
Depoimento Monica Lopes
30/03/2013 - Sabado
- Depoimento

"Eu deito no vidro. Ele é minha cama na rua. Permaneço ali. Os vidros são minhas lentes, por onde vejo a realidade do Vale. Os ruídos levam-me a movimentos mais abruptos, e de quebra e conflito com o objeto. Objeto este que se quebra. Quebra-se. Ouvir os ruídos e quebrar-se. Sem se esperar o vidro se quebra em múltiplos pedaços. Sinto meu corpo quebrar-se por dentro. E desta quebra deslocar-se. Impulsos de dentro do peito para fora. Impulsos que levam o corpo todo a explodir no espaço. Fragilidade. Corpo que se retrai e tônifica os músculos na prontidão do movimento. Movimento a partir dos ruídos de fora. Impulsos pelos ruídos. Percepção do espaço mesmo com olhos vendados. Não tive medo, apesar do susto e do quebrar-se ao sentir a explosão do vidro no estilhaçar. Sentir os pequenos pedaços sendo arremessados, sem escolha ou decisão, ser arremessado. Saio e pego o vidro restante e me apoio nele para ver, para estar no ambiente. Quero ouvir sons que este cria no atritar-se com o solo. Ele se quebra. Eu continuo agora com a memória do som dos estilhaços. Não chego no nível alto. Apenas médio e baixo. Retorno ao encolher muitas vezes, sinto as contrações musculares que ocorreram ao ouvir a quebra do vidro, ou a buzina do caminhão, um corpo que se protege. Destas contrações me movo, me desloco no espaço com pequenas explosões, onde sou deslocada. E assim permaneço, até a Fabi tirar as vendas."

- provocação Fabiane

"Corpo mais mole em pedaços. Uma parte sendo arremessada. Partes independentes e largadas no espaço. Corpo quebrado em partes. Corpo estranho, tortuoso, que leva a quedas sucessivas, não se mantêm estável."
Instruções
Programa# Instruções para Demolir - um primeiro estudo de fisicalidades no Vale - 30/03/2013 - Sabado
Coordenado por Monica Lopes

#Cartas de Instruções

Instruções
Programa# Mapas/Vestígios/Instruções para o Colapso - 31/03/2013 - Domingo
Coordenado por Fabiane Carneiro

#Mapas

#Vestígios

#Instruções para o Colapso

INSTRUÇÕES PARA O COLAPSO - Carolina Nóbrega

Se estas instruções chegaram às suas mãos é porque é o momento. Qualquer sistema, de qualquer ordem, em algum momento chega ao colapso. Cabe a você agora permiti-lo.
Momento 1 – Observe os sinais ao redor. Já está acontecendo. Rachadura. Goteira. Musgo. Ferrugem. Cupim. Buraco.
Momento 2 – Prepare-se para experimentar o fracasso. O tempo não irá mais trazer nenhum pagamento. O tempo é o fim. Viva simplesmente o fracasso.
Momento 3 – Procure todos os dispositivos de catálise destrutiva. O botão vermelho detonador. O Control Alt Del. O pavio. A euthanasia. Acione-os.
Momento 4 – Participe da quebra e inundação das barragens, da queima de arquivos, das distensões musculares, da demolição dos prédio, das convulsões.
Momento 5 – Observe os fragmentos, a fumaça poeirenta, os cacos, as partes do corpo desmembrados, os restos, os rastros, os ratos, os cupins e traças. Adentre a natureza enferrujada da lata.
Momento 6 – silêncio.
Momento 7 – Repare no ruído e nos micromomentos dos cacos e restos buscando-se, colando-se, reunindo-se em agrupamentos, em montes, gerando realidades sintáticas, paulatinamente produzindo fundamentos gramaticais num acréscimo verborrágico.
Momento 8 – Aceite o nome que te for dado no novo sistema erguido e participe dele como lhe convier. Aguarde o momento em que estas instruções cairão novamente em suas mãos.


INSTRUÇÕES PARA O COLAPSO - Andrea Mendonça

Correr incessantemente de um canto ao outro e, no momento em que não há sinal de fuga, desmoronar. O desmoronar aparece de maneiras diversas. Em um primeiro momento, é brusco, mas ao mesmo tempo é imperceptível a mudança de nível, em apenas 1 segundo o corpo está no chão e, no segundo seguinte, ergue-se, repete inúmeras vezes até a exaustão. Em um segundo momento, se dá por partes, joelhos flexionam lentamente, aproximando-se do chão, cabeça se enrola alcançando os joelhos, o tronco fica pendurado, tenta-se erguer, volta à posição anterior, até os pés decidirem dar uma rasteira no resto do corpo e encontrar o chão, permanecendo deitado por alguns segundos, ou talvez minutos, descansando, observando, o próximo colapso, o colapso ao lado. Em um terceiro momento, o colapso é um “quase colapso” ou “colapso quebradiço”, o corpo não chega a cair no chão, mas desequilibra-se, permanece no lugar do entre, partes quebram, pequenos ossos da mão desfragmentados, alguns maiores, antebraço, tibia, cabeça, calcanhar vão se desfazendo e, em seguida, se recuperam, numa luta constante no sentido contrario, há certa tensão e, repete, e repete, e repete, em deslocamento obrigatório.
INSTRUÇÕES PARA O COLAPSO do corpo_edifício_cidade - Fabiane Carneiro

Primeiro é importante se conscientizar de que não existe corpo_edifício_cidade que não colapse. Mais cedo ou mais tarde isso ocorrerá. Dependerá da manutenção dada a ele e dos elementos externos/internos que agirão sobre esse corpo.

Partindo do pressuposto de que a manutenção do corpo_edifício_cidade, nesse caso O SEU CORPO, tenha cessado e de que os elementos continuam agindo sobre você, uma sequência de fatos ocorrerão lentamente, sem possibilidade de retorno:

- primeiro sua pele/casca começará a rachar e descascar. Isso em decorrência do trabalho constante dos elementos externos (sol, calor, vento, umidade, chuva, água) que começarão a lhe afetar.

- depois seus olhos/vidraças ficarão opacos e se espatifarão, deixando que os elementos externos invadam seu corpo, acelerando seu demantelamento.

- então a estrutura de sua cabeça/telhado não conseguirá mais se manter e vai colpsar, deixando que a gravidade atue sobre ela. Esse colapso, entretanto, levará mais uma boa parte da sua estrutura corpo a se deslocar em direção ao chão: ombros, braços, cervicais e toráxicas., como uma avalanche.

- as vigas_pilares/quadril_pernas, porém, se manterão firmes e estruturantes, escorando todo o resto do corpo já colapsado a cima. Esse é um momento de descanso, aproveite pois as transformações não cessarão por aí.

- com o passar do tempo, pequenas fissuras e desencaixes vão se dando nas vigas_pilares/quadril_pernas. São quase imperceptíveis, porém transformarão sua organização vertical em um quebra cabeça de sustentação em diagonais articulares, que se escorarão em si mesmas, dando mais uma sobrevida ao corpo.

- por fim, sem poder mais se suster, a estrutura desaba em seu colapso súbito, deixando as partes da estrutura sobrepostas ao chão em um misto de alívio/ fatalidade e esperança de que a reformulação desse corpo acarrete em um corpo_edifício_cidade mais longevo, mais eficaz na difícil tarefa de se manter em pé.



INSTRUÇÕES PARA O COLAPSO - instruções para se apoiar no outro(com a orientação das fontes) - Monica Lopes

Primeiro procuraremos a orientação das Fontes: 1. Lago dos Ratos Alados; 2. Buraco Seco; 3. Fonte dos Cavalos.
E sem dormir segui-las mesmo que estejam secas por dentro. Extrair delas surdos metais do solo seco à nomenclatura dos rios subterrâneos.

Neste Vale segue-se a orientação de 3 fontes, mas tudo isso invisível (subterrâneo) à polícia e à população amavelmente temerosa.

Ao se encontrar com alguma estrutura, procura aproximar-se e apoiar-se neste Corpo/Estrutura para um Equilíbrio Efêmero. O corpo da Estrutura, o Peso/Densidade da Estrutura se torna apoio momentâneo, este que se desfaz logo no momento seguinte.

Depois se irá percebendo, por Prazer das Águas, por artifício do Jogo, um aproximar-se pouco a pouco, Confluir, Enlaçar-se (na Estrutura), Transformar-se em Artérias e Derramar-se Dura na Praça Central, quedar-se e, assim, permanecer Imóvel.

Então mataremos os Ratos alados, que cobiçam as Fontes, estas que orientam o Vale.
E depois partiremos num trem noturno, sentindo-nos obscuramente felizes, misturados uns nos outros.