Instruções para o Colapso
Coletivo Cartográfico
Sobre o Projeto
Instruções para o Colapso será um espetáculo de dança contemporânea a ser desenvolvido e apresentado na rua, a partir da relação direta de risco e escuta entre corpo e cidade.
As integrantes do Coletivo Cartográfico compreendem a cidade como um sistema em constante mutação. A arquitetura, uma marca humana que supostamente sobreviverá ao homem, é também despida em sua fragilidade, a partir de demolições e construções. Dessa maneira é da própria natureza urbana exigir do homem um estar em constante necessidade de deslocamento e adaptação, não há descanso. O corpo urbano, portanto, partilha da paisagem e também é um campo-arquitetônico móvel, apto à demolições e construções.
Instruções para o Colapso investiga paisagens e arquiteturas corpo-espaciais como sistemas de significados que são construídos e re-construídos a todo tempo, buscando novas possibilidades desse estar urbano impermanente.
O Coletivo Cartográfico explora a impossível estabilidade de um corpo, um corpo que vive a experiência urbana, que tenta e não consegue definir para si uma identidade. Procura-se estabelecer uma ilusão de estabilidade, uma situação de descanso e compreensão que imediatamente se desfaz, e o corpo é novamente obrigado a se demolir e se readaptar a novas situações de existência que o espaço e suas infinitas inter-relações sugerem ou exigem.
Trata-se, portanto, da investigação não apenas de um corpo que dialoga com o espaço arquitetônico urbano dentro de uma linguagem de dança pré-determinada, mas de uma dança que se constrói no confronto direto com o prédio e o asfalto, na investigação de linguagem de movimento que aparece desse choque, criando uma fisicalidade demolível e reconstruível que proporcione paisagens movediças, arruinadas. Trata-se de uma dança disposta ao risco da atualidade da experiência urbana e suas surpresas e da abertura para a colisão com o chão e as paredes.
Desta maneira, eliminam-se fronteiras entre arte e a vida, pois são as ações que criam os corpos na atualidade dos acontecimentos, os corpos das intérpretes e os corpos daqueles que assistem.
Instruções para o Colapso portanto, expõe a fragilidade de uma dança desprovida do espaço protegido da cena teatral, uma dança que se despe publicamente. Esta linguagem de movimento em criação, enfrenta as dificuldades de comunicação da dança contemporânea a partir do corpo das dançarinas vivenciando riscos físicos e de compreensão, no diálogo direto com os acasos infindáveis do espaço público.


Sinopse
Roteiro da Obra Coreográfica
Instruções para o Colapso é um espetáculo que acontecerá em praças e passeios públicos de grandes centros urbanos. Trata-se de um trabalho que será desenvolvido atento aos processos de fragmentação e ordenação típicos da experiência na cidade e poderá ser apresentado em diferentes centros urbanos e em diferentes espaços de uma mesma cidade. Dessa maneira, o trabalho irá possuir uma estrutura coreográfica mutável.
Propõe-se que o espetáculo se estruture a partir de sua permissão à fragilidade, oscilando entre momentos de coreografias ensaiadas - nas quais se estabelecem descansos, ou demolições gerais - e momentos radicalmente abertos às intervenções do público, à improvisação e ao acaso daquilo que pode e deve também transformar as intérpretes, o corpo, e a coerência da obra no instante em que ela ocorre - jogando com a rigidez e a abertura do espaço urbano, que hora fecha e hora abre as possibilidades de experienciá-lo.
Cada dançarina do Coletivo Cartográfico irá explorar - coletiva e individualmente - diferentes formas de demolir e construir o próprio corpo e o espaço. Os diálogos entre as intérpretes apontam a esquizofrenia dos encontros na esfera urbana na qual cada transeunte, que carrega seu relicário pessoal de elementos estabilizadores, tenta forjar uma comunicação com o outro. Em alguns momentos a estrutura coreográfica também sugerirá a presença de uma coletividade mais unificada - um uníssono - que se impõe seja pela identificação entre as pessoas ou pela violência das ordenações formais externas. Estes momentos uníssonos, entretanto, não conseguem sustentar-se por muito tempo.
Instruções para o Colapso portanto, criará a todo o tempo cartografias fisico-espaciais movediças.
Para o desenvolvimento e aprimoramento destas demolições e construções do corpo, as intérpretes-criadoras estão desenvolvendo e aprimorando uma pesquisa teórico-prática de diferentes formas de demolição e construção arquitetônicas para buscarem analogias para a criação da movimentação corporal, iniciando o trabalho de pesquisa em torno de qualidades corporais bastante distintas que oferecem células de movimento a serem recombinadas coreográficamente em infinitas variações .
O Coletivo Cartográfico, em atividade desde 2011, desenvolveu pesquisas em residências e performances pontuais, e permaneceu em atividade a partir da proposição de instantâneos, de performances pontuais e de residências artísticas. Instruções para o Colapso seria o primeiro espetáculo a ser desenvolvido pelo coletivo e, para tal, foram convidados alguns outros profissionais para integrarem à equipe de criação, afim de ajudarem o coletivo na estruturação deste trabalho.
Henrique Lima, que já ofereceu treinamento corporal em outro trabalho para três das integrantes do coletivo, seria o primeiro profissional a adentrar o processo criativo, para oferecer uma pesquisa de resistência física e uso do peso para preparar as intérpretes para o estado de risco corporal desejado.
Jerônimo Bittencourt, em um segundo momento, entraria com um preparo corporal relacionado ao Le Parkour, oferecendo ao Coletivo uma série de recursos e técnicas para permitir uma maior escuta e gama de possibilidades de relação com a arquitetura urbana.
Alex Ratton também integrará o processo criativo de Instruções para o Colapso na figura de Provocador Artístico. Como Provocador Artístico o Cartográfico compreende um artista que oferecerá, ao longo de diferentes etapas do processo, referências corporais, artísticas, teóricas e de procedimentos/estratégias de criação, para alimentar e enriquecer o processo criativo. Além disso, nesta função, Alex também se colocará como um observador do processo, podendo tecer críticas ao espetáculo de forma a ajudar às interpretes criadoras na tessitura da obra coreográfica em desenvolvimento por vias auto-gestionárias. O artista Alex Ratton foi escolhido de acordo com seu conhecimento em Contato-Improvisação e intervenções de rua, abrindo mais um caminho para que o coletivo alcance as fisicalidades e ocupações espaciais pretendidas.
A escolha de preparadores corporais e de um provocador artístico com trabalhos e pesquisas técnicas muito distintas de dança, parte exatamente do fato de ser o Coletivo Cartográfico recém-formado, em processo de criação de uma linguagem de dança própria. Não se trata, como já apontado anteriormente, de uma linguagem que pretende se apropriar de um saber de dança específico pré-determinado, pelo contrário, pretende-se criar uma fisicalidade de embate com a rua, que precisa de um preparo ainda a ser descoberto e, para tal, a mescla entre experiência de campo e experiências através de diferentes técnicas de dança será extremamente enriquecedor para o processo de criação do espetáculo e, para além disso, para o fortalecimento do próprio Coletivo.
Instrução para o Colapso é um chamado que convoca uma atitude ativa das artistas e do espectador, anunciando que corpos são sistemas relacionais abertos, altamente suscetíveis e cambiantes: se o projeto põe em evidencia o corpo, é para tornar evidente o corpo mundo.
Glossário de qualidades corporais
Fisicalidades a serem investigadas ao longo do processo: Diferentes possibilidades de Demolir, Estabilizar e Erguer no(o) corpo.

A. Demolir –
1. Derribar, desmantelar, deitar por terra (edifício ou outra construção).
2. [Figurado] Arruinar, destruir, aniquilar.

Qualidades diferentes:
- Explodir
Expansão abrupta do centro para a periferia – multidirecional.
- Implodir
Contração abrupta da periferia para o centro no sentido gravitacional.
- Desmoronar
Uma parte do corpo leva as outras a se desestabilizarem de forma sequenciada.
- Despedaçar
Colapso de partes diferentes do corpo – dissociação.
- Tombar
Queda de corpo inteiro – ou parte – enrijecido desenhando um arco no espaço.
- Ruir
Transformar a forma lentamente – Descascar, envergar, enferrujar.
- Derreter
Transformar a forma com qualidade líquida.
- Largar
Abandonar o peso no sentido gravitacional.
- Empurrar
Deslocar outro corpo.
- Lançar-se
Deslocamento abrupto em uma única direção.

B. Estabilizar - Tornar estável

Qualidades diferentes:
- Pausar
Cessar o movimento.
- Apoiar
Estabilidade temporária a partir de um elemento externo.
- Equilibrar
Estabilidade temporária a partir de um apoio interno.
- Segurar
Impedir a queda de outro corpo.

C. Erguer:
v. tr.
1. Levantar (o caído). 2. Erigir; construir; fundar. 3. Fazer soar alto.
4. Exaltar.
v. pron.
5. Levantar-se; pôr-se em pé. 6. Elevar-se. 7. Assomar. 8. Aparecer em sítio alto.

Qualidades diferentes:
- Suspender
Erguer-se calmamente de maneira expansiva e leve.
- Içar
Deslocar parte do corpo em uma direção precisa enquanto o resto do corpo fica com peso abandonado.
- Construir
Engendrar partes para constituir um todo de forma dissociada
- Escalar
Subir apoiando em elemento externo
- Inflar
Expandir calmamente do centro para a periferia - multidirecional